sábado, 21 de junho de 2008

Eurocopa e a Colonização

Gostaria sinceramente de passar alguns posts sem comentar de futebol ou derivados, mas não tenho como me ausentar diante da transmissão estapafúrdia da Eurocopa feita pela Rede Record. Está acabando, mas aproveitem, cada partida acumula constrangimentos ao vivo daqueles que terminam no youtube e se tornam o vídeo viral do momento. Não vou discutir aqui se os jogos deviam ou não estar na grade de programação da televisão brasileira, se é um absurdo estarem no lugar de uma produção nacional ou todo blá blá blá paradoxal das cotas. Alguns defendem, outros não e a vida continua. Por ora, prefiro me ater à forma como o narrador insiste em costurar um sensacionalismo muito desprendido da realidade, uma realidade vista diretamente pelo espectador, ao comentar, por exemplo, que todos os jogos, inclusive o empate sem gracinha e sem belas jogadas entre Polônia e Áustria, estão se firmando como 'grandes espetáculos'. É notável a influência radiofônica do exagero e da rapidez num sentindo de manter o ouvinte atento, o que se mescla a um discurso colonizado patético que termina por erguer a Eurocopa ao patamar de 'mais que futebol', onde absolutamente todas as partidas 'vão entrar pra história do futebol mundial'. Nostradamus já dizia que no dia em que Eslovênia e Letônia forem grandes clássicos do futebol, o mundo realmente não terá mais chance diante do juízo final. Nos primeiros jogos que eu vi, imaginei que o narrador estava tão egolombrado por ter conseguido aquele emprego que, além de tudo, criava um mal estar com os comentaristas até que percebi que a cada jogo, tem o comentarista fixo, um ex-jogador, e outro convidado escolhido de uma maneira completamente arbitrária. Tipo, o jogo é Itália e Romênia aí chamam um ator nascido na Itália pra comentar. Sério. Ah sim, esqueci de comentar, mas pelo que já escrevi, vocês devem ter percebido, que a equipe obviamente está fazendo a transmissão assistindo pela televisão diretamente do Brasil. Os erros são inúmeros, o jogador X vira o Y depois vira Z e isso para não falar que o narrador claramente escolhe algumas seleções pra torcer e fica insistindo para que o telespectador o acompanhe na torcida. Portugal era a seleção queridinha por causa do treinador brasileiro, pelo compartilhamento da mesma língua e por ter em seu time Cristiano Ronaldo, 'a estrela maior da competição'. Realmente se existe um manual de transmissão de jogos da Record, ele só pode ter sido escrito por um humorista irônico com nosso complexo de colonização.

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