segunda-feira, 9 de junho de 2008

Breads, Cookies, Kisses...

A primeira coisa que pensei quando terminou My Blueberry Nights aqui na tela do computador foi: 'Norah Jones, minha filha, você devia ter ido buscar a Rachel Weisz ou a Natalie Portman ou ambas para o Jude Law e depois ter sumido pra sempre da história'. Óbvio que não foi assim que aconteceu. Infelizmente. Não ligo como isso vai soar, mas acho que o Wong Kar-wai devia mesmo era ter feito um filme só com o Jude Law. Ou só com o personagem do Jude Law, Jeremy, que no corpo do Jude Law me pareceu muito bem. O diálogo dele, em seu charmoso café, com uma possível ex-amante chamada Katya, interpretada pela Cat Power, enquanto fumam cigarros enrolados e tendo como premissa o fato dela ter voltado para partir definitivamente só me fez lembrar dos versos batidos de In My Life, dos Beatles. Brega pra caralho, mas é isso aí. Eu sei que perdi a linha durona, costumo ser bem mais ácido que isso e já estou até com vontade de me esconder debaixo daquela mesa, mas toda essa coisa de reencontros afetivos, de despedidas emotivamente obrigatórias e de voltar aos lugares, histórias e pessoas marcantes são típicos exemplos do que acaba me comovendo. Já é de praxe. Eu sei, piegas até dizer 'chega dessa conversa' ou 'me poupe, meu senhor', mas isso é o que termino escrevendo aos fins de noite de segundas-feiras amargas. Segue o diálogo só pra constar:

Katya
Still rolling your own cigarettes?

Jeremy
You want one?

Katya
Yeah

...

Katya
Tastes different.

Jeremy
It's probably just been.
in my pocket too long.

Katya
It's a shame you can't.
smoke in cafes anymore.

Jeremy
You can't smoke anywhere anymore.

Katya
You should've changed the place.
It's not that much different

Jeremy
I've been meaning to buy new chairs
but I couldn't never find any that match
the tables and the tiles

Katya
Shouldn't be hard
Maybe you're just looking
in the wrong places or maybe
you're just sentimental

...

Jeremy
You look lovely

Katya
I'm starting to look like my mom

Jeremy
It's better than looking like your dad
I've seen photos of him

Katya
You still have the keys?

Jeremy
Yeah... I always remember what you said
about never throwing them away,
about never closing those doors forever. I remember

Katya
Sometimes, even if you have the keys
those doors still can't be opened, can they?

Jeremy
Even if the door is open
the person you're looking
for may not be there, Katya

Jeremy (OFF)
A few years ago, I had a dream.
It began in the summer
and was over by the following spring
In between, there was
as many unhappy nights
as there were happy days
Most of them took place in this cafe
And then one night
a door slammed and the dream was over

Katya
I should be going
I have to catch a flight in the morning.
Thanks for the smoke.
You know, I didn't even think
you'd still be here

Jeremy
Why'd you come?

Katya
I guess I just wanted to see
if I could remember
what it felt like

...

Katya
Goodbye, Jeremy

Jeremy
Bye, Katya

Ok, My Blueberry Nights podia ter também o David Strathairn e sem dúvida a Rachel Weisz, mas ainda assim, mesmo com esse assumido gosto por atores, atrizes e personagens em contraposição ao desgosto por atores, atrizes e personagens (leia-se Norah Jones e Natalie Portman no clima Crossroads), prefiro sem sombra de dúvida as atuações e as banalidades filosóficas de Amores Expressos (1994), Anjos Caídos (1995) e Felizes Juntos (1997). Acho que apenas o Jude Law, suas chaves guardadas - e cada história de amor para cada chave - além de sua câmera de segurança que o registra todos os dias conseguem manter o ritmo cotidiano belo e reflexivo dos velhos tempos. Talvez para constar nos anais de quem disse o que, valha a pena lembrar que a fotografia e a direção de arte continuam arrebentadoras: muitas cores, sobreposições, brincadeiras com texturas, velocidades para cá e para lá e fica muito claro como técnica por técnica não sustenta nada, nem ela mesma. Wong Kar-wai é mais que isso. Em My Blueberry Nights, as características tão caras ao cineasta deixam de ser vivas para se tornarem monumentos, instituições. O que é uma pena. O inglês não lhe fez muito bem. A América não lhe fez muito bem. E antes de ir embora, queria dizer que 'The Lady from Shangai', o tal filme do Wong Kar-wai com a Nicole Kidman, já está virando o 'Chinese Democracy' do cinema. Como assim ainda em pré-produção?

Um comentário:

Anônimo disse...

teve um momento que eu pensei em dizer pra Norah Jones: Ei moça, leva a Natalie Portman ali pro Jude Law e por favor sai desse filme.