segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Revolução

Depois das inúmeras matérias nos jornais nacionais da vida sobre os protestos dos jovens em Londres - poderia ser sobre os moradores de Jordão Alto, Igarassu ou IPSEP - em que somos apresentados a um amontoado de imagens sem sentido, pneus ou carros queimados, multidão correndo, pedras arremessadas, spray de pimenta, enquanto ouvimos a repórter soltar palavras como "vândalos", "destruição", "caos", nos damos conta rapidamente da omissão completa em contextualizar reivindicações ou mesmo destrinchar os meandros mínimos das disputas. Não penso apenas no processo de achatamento da realidade, na negação sem constrangimento da informação básica, na singular regulação do conformismo ou mesmo na discreta vigilância / intimidação legitimada por tais matérias, muitas vezes evocando presenças e ações absurdamente autoritárias, mas em particular como os meios tradicionais de comunicação assumem invisivelmente e conscientemente a mesma opinião da Secretária da Peste, na peça "Estado de Sítio", de Albert Camus. Diante da insatisfação coletiva na cidade de Cádiz, ela comenta:

"Parece até uma revolução! No entanto, bem sabeis que o caso não é para isso. Mesmo porque não compete mais ao povo fazer a revolução: seria muito fora de moda. A polícia, hoje, é suficiente para tudo - mesmo para derrubar o governo. E, no fim das contas, não será melhor? O povo pode repousar, enquanto alguns bons espíritos pensam por ele e decidem, em seu lugar, qual a felicidade que lhe será favorável. Vamos, meus bons amigos... Não seria preferível ficardes onde estais? Quando uma ordem é estabelecida, custa muito caro mudá-la".

CAMUS, Albert. Estado de Sítio; O Estrangeiro. São Paulo: Abril Cultural, 1979 (pág. 126)