segunda-feira, 2 de junho de 2008

Curto Circuito

Só achei estranho quando Paulo Caldas falou na Aliança Francesa que Amigos de Risco, de Daniel Bandeira 'já estava aí no circuitão'. Só faltou o bombando no circuitão. Um pouco exagerado, eu diria, afinal um único horário na semana, exatamente às 19:15, apenas na quinta-feira, apenas no Shopping Tacaruna não é bem o que podemos chamar de circuitão né? É algum avanço em termos de visibilidade comercial digamos, mas nada perto da quantidade de salas e horários que qualquer outro filme tem nos Mutiplex da vida. Nada perto mesmo. Só para termos uma idéia, As Crônicas de Nárnia, por exemplo, está atualmente com 47 sessões espalhadas em 13 salas do Recife. Indiana Jones eu não preciso nem dizer. Tudo bem que o que interessa nessa lógica é o dinheiro da programação, depois pensemos na qualidade dela, mas acho que dois horários é o mínimo que se pode dar a um filme. Dois horários, 176 minutos no caso de Amigos de Risco. Definitivamente as Sessões de Arte (ou sessões especiais) da cidade do Recife são bem ingratas aos cinéfilos desmotorizados, feios, trabalhadores noturnos e que moram longe. Por isso, sou um total defensor das sessões matutinas, acho que é uma discussão que poderia entrar em pauta em tempos de crise da tela grande. O Shopping Boa Vista já faz isso aos sábados. É uma alternativa. Há duas semanas assisti Homem de Ferro na sexta de noite e Família Savage no sábado de manhã e não é que, seguindo outros sábados, o segundo filme tinha um público bem, mas bem maior que o primeiro? Está na hora do Multiplex se tocar, sair um pouco do padrão e começar a rebolar.

Mas voltando ao circuitão, espero que daqui um tempo, Amigos de Risco entre em cartaz no Cinema do Parque. R$ 1,00 e várias sessões. Boto a maior fé e acho que só vou escrever um texto decente sobre o filme depois dessa experiência. Saí do Cine PE já pensando nela: nos estudantes gritando, nos velhos moradores da Boa Vista, nas bichas da Fun Fashion, nos trabalhadores de todo canto, no pessoal que paga o ingresso só pra dormir. Quero rever o filme de Daniel Bandeira e quero rever no Parque. Obra e local de exibição conectados profundamente. Ponto. E para não fechar esse post em clima de reivindicação panfletária - o que não é muito lá a minha praia - resolvi descontrair lembrando uma resposta e um complemento hilário de Paulo Caldas. Ao ser perguntado se a visibilidade internacional de diretores brasileiros ajudava o cinema brasileiro internacionalmente (e o que dizer do 'nacionalmente'?), ele respondeu com uma cara desconfiada que ajudava sim, mas que esse interesse muitas vezes se resumia a um determinado cinema brasileiro: atualmente, o vinculado a figuras e/ou produtoras de Fernando Meirelles e Walter Salles. Esse último mais conhecido como 'Walteza' nos bastidores-conversas-entre-cineastas-não-tão-famosos. No final das contas, da microesfera a macro, volta o debate do cânone vivo - eleito por efeito comercial ou artístico - e tudo parece se resumir numa mera luta por espaço. E aí não tem como deixar de falar nas cotas para o cinema nacional, atitude que me deprime, mas que me deprime mesmo porque é uma puta saída paliativa necessária e ainda ínfima.

3 comentários:

Elis. disse...

Fazer o quê se o cinema nacional tem grana para produzir, mas na hora da distribuição...
aí nosso cinema fica dependente dos festivais, de um público mais restrito que realmente aprecia e se dispõe a se enfiar num cinema nos horários mais inconvenientes em busca de algo melhor que Indiana Jones.
cotas, cotas sim. Ou multa para o multiplex!

Pior que o filhos das putas ainda preferem pagar a multa.
[uma intrometida]

Rodrigo Almeida disse...

As cotas são sim necessárias. Se já estamos como estamos na presença delas, não quero nem imaginar como seria hoje sem elas. Acho triste, mas é fato. De qualquer forma, acho uma merda o cinema brasileiro ter de depender das cotas em seu mercado interno... acho interessante que além das cotas, surgisse uma série de outras medidas que, com o tempo, tornassem as cotas desnecessárias e a produção nacional tivesse seu público bem estabelecido.

E isso de preferir pagar multa é triste demais.

Anônimo disse...

Paulo Caldas não é aquele escritor bonzinho que qndo eu era criança ele já tinha cara de velho-bonzinho e escreveu Asas pra que te quero?
Eu li na segunda série.
Tu leu?
inculto!
hahahahahaha