Numa conferência em Hamburgo em 16 de setembro de 2001, Stockhausen foi questionado por um jornalista se a natureza de sua obra Licht era meramente "uma compreensão figurativa de uma história passada ou se particularmente demonstrava aspectos materiais dessa história". O compositor alemão respondeu: "Eu oro diariamente para Adão, não para Lúcifer. Eu o renunciei de minha vida, mas ele está sempre muito presente como em Nova York recentemente". Um jornalista então perguntou como os ataques ao World Trade Center afetaram ele. A resposta foi:
"Well, what happened there is, of course — now all of you must adjust your brains — the biggest work of art there has ever been. The fact that spirits achieve with one act something which we in music could never dream of, that people practise ten years madly, fanatically for a concert. And then die. [Hesitantly.] And that is the greatest work of art that exists for the whole Cosmos. Just imagine what happened there. There are people who are so concentrated on this single performance, and then five thousand people are driven to Resurrection. In one moment. I couldn't do that. Compared to that, we are nothing, as composers. [...] It is a crime, you know of course, because the people did not agree to it. They did not come to the "concert". That is obvious. And nobody had told them: "You could be killed in the process." (Stockhausen 2002, 75–76.)
Essa resposta foi usada fora de contexto ao redor de todo mundo, o que ocasionou o cancelamento de diversos concertos, inclusive o cancelamento de um festival dedicado ao compositor que iria acontecer na Alemanha. Vários jornais publicaram essa frase crucificando Stockhausen (há uma semana escutei essa história de maneira também distorcida). De um dia para o outro, ele se tornou uma persona non grata em todos os lugares (no nível de quando John Lennon declarou, em 1966, que os Beatles eram mais famosos que Jesus Cristo). O golpe final veio quando a filha pianista de Stockhausen declarou à imprensa que, a partir daquele momento não queria mais ter seu nome vinculado ao do pai. O compositor ainda chegou a redigir uma nota à imprensa explicando sua fala:
"At the press conference in Hamburg, I was asked if Michael, Eve and Lucifer were historical figures of the past and I answered that they exist now, for example Lucifer in New York. In my work, I have defined Lucifer as the cosmic spirit of rebellion, of anarchy. He uses his high degree of intelligence to destroy creation. He does not know love. After further questions about the events in America, I said that such a plan appeared to be Lucifer's greatest work of art. Of course I used the designation "work of art" to mean the work of destruction personified in Lucifer. In the context of my other comments this was unequivocal. (Stockhausen, 2001)
Óbvio que a 'errata' não teve repercussão alguma. Stockhausen morreu em 5 de dezembro de 2007. To com a impressão de que a morte dele também não teve lá muita repercussão, apesar de não poder falar com firmeza por ser meio leigo no assunto. De qualquer forma, tiro por Hugo e Finha que são bem mais entendidos de música cabeçuda que eu e achavam que ele tinha morrido há bem mais tempo.
Não conheço a obra dele, mas nada como uma história dessa para funcionar como primeiro passo. Se depois disso você ainda precisa de um empurrão, vale dizer que Stockhausen é uma das 'personalidades' escolhidas para a capa do Sgt. Peppers Lonely Blá Blá Blá. Além disso, Rogério Duprat foi seu aluno, assim como o pessoal do Kraftwerk. O compositor já foi citado como influência por Miles Davis, Charles Mingus, Frank Zappa até Sonic Youth e Bjork.
Um minuto de silêncio.
Oficialmente estou escutando Stockhausen.
Um comentário:
Finalmente alguém que mostra o outro lado da fala de Stockhausen. Por causa disso, é considerado rebelde, polêmico e anárquico.
Sua genialidade não deve competir com isso. Ele é muito mais provocante em sua musica do que nessa fala. Por exemplo, o quarteto tocando em 4 helicópteros diferentes.
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