terça-feira, 22 de abril de 2008

loser way of life

Continuando a minha saga 'sou loser e não desisto nunca' fui ontem em Boa Viagem, aquela simpatia de bairro (sim, é uma ironia), pegar minha credencial para o Cine-PE. Tudo ok - podem acompanhar e colaborar, a partir de domingo, com a cobertura escreva-você-mesmo lá no Dissenso. Depois do olhar da assessora de imprensa 'tem certeza que você é Rodrigo Almeida?', passei no Shopping Recife rapidamente e descobri que apenas uma lanchonete da praça de alimentação antiga tem suco de polpa pra vender. O resto é em lata, refresco nojento-péssimo e a maioria absoluta nem tem essa opção no cardápio. Tomei um suco de acerola. R$ 3 por 300 ml é pra se fuder no país tropical. Tudo bem, tudo bem, dou um desconto porque sempre fico com a pena do universo de quem trabalha 12 horas dentro daquele espaço 'loucura ou morte', mas nem só de pena vive o homem. E, provavelmente, eu menos que os outros homens. Prefiro a compaixão... ou a raiva, o cinismo, a grosseria, o descontentamento, a provocação, o abuso e todos os sinônimos que o quiroga-ponto-net pode encontrar para o signo de áries. Enfim, tomei o meu suco e segui o meu caminho. Aproveitando que já tinha saído de casa, fui ao Cinema Apolo assistir A Marca da Maldade, de Orson Welles. Cheguei lá vinte minutos antes, super feliz com o meu senso de responsabilidade, super feliz que ia ver um filme ótimo, aí entro saltitante e pergunto se já estava vendendo ingresso. A moça, uma segurança charmosa de uniforme, responde:

- Não vai ter sessão hoje não.

- NÃO? SÉRIO? (e o Caps Lock aqui não é à toa)

- Não. A fita partiu no domingo e ontem já não teve e hoje também não vai ter.

- /o\ Poxa... nem saiu no jornal avisando né?

- Saiu não? - perguntou a mulher numa simpatia ímpar (e sim, agora é sério)

- /o\ Acho que não. Pelo menos, eu não vi nada no JC.

Fiquei lá com carinha de cachorro sem dono, olhando os folhetos, cartazes, buscando na mente alguma alternativa e consequentemente sem conseguir pensar em nada. Pra piorar tudo, desde quinta estou sem celular - o que está se mostrando uma experiência ótima de desapego, mas que não ajuda muito quando tudo o que você quer é ligar para algum amigo e pedir uma sugestão ou requisitar companhia. A mulher percebeu minha angústia, até porque fiz questão de não disfarçar o quão estava frustrado, e pegou um papel em suas mãos.

- Mas olha, no Cinema do Parque tem uma sessão que começa agora de 17:30. Deixa eu olhar aqui pro senhor pra ver qual é o filme.

- Eita, é mesmo, olha aí... - comecei a esboçar um sorriso, porque achava que era Piaf e seria ótimo rever no cinema.

- Olha aqui: de 17:30 o filme é "Meu nome não é Johnny".

- ¬¬ Aff... ok, obrigado.

O cara sai de casa pra ver um Orson Welles e recebe recomendação de Meu nome não é Johnny é pra surtar e sair quebrando tudo. Podia até fazer isso, numa linha João Guilherme Estrella, alegando, inclusive, que tinha cheirado cocaína - só pra jogar alguma referência à obra do diretor Mauro Lima e ao personagem do Selton Mello. Ok, entendo que a pobre moça, uma segurança charmosa de uniforme, só estava querendo ajudar. Não fiquei com raiva dela, longe disso, mas é que esse filminho brasileiro foi responsável pela última vez que tive vontade de sair do cinema no meio de uma sessão - antes disso foi há dez anos, aos 13, em Volcano, do Mick Jackson (O_O). Ambas as produções são muito, muito, muito ruins, daquelas que terminam e você acredita piamente que merece seu dinheiro de volta. Nem vou perder meu querido tempo elencando os motivos. Sequer vale a pena. Engoli toda a frustração, lembrei do Tibet, voltei pra casa bem triste, peguei um CDU / Várzea lotado (ao menos fui sentado), enfrentei o corredor-caos-do-caralho-leste-oeste e cheguei em casa todo suado, começando a me sentir meio mal.

Liguei o computador, fiquei pensando qual filme devia assistir pra compensar e 'puft', o computador desliga sozinho e aparece como se o windows tivesse sido desinstalado. Surtei. Sério, eu vi a minha vida passar como um filme (a infâmia é meu pastor e nada me faltará). Tentei umas dez vezes reiniciar até que desisti, sentei no sofá e entrei em depressão. Minha mãe passou pela sala, me fitou com olhos esbugalhados e disse que eu estava anêmico. Todo dia ela diz que eu estou alguma coisa: amarelo, anêmico, magricelo, bêbado e por aí vai. Novamente com o Tibet na cabeça, reuni todas as minhas forças, fui até o computador, desconectei tudo, peguei a CPU nos braços, cantei canções de ninar, limpei, troquei a fralda, desenrolei os fios e religuei tudo. Né que o danado voltou ao normal. Foi tanta carga energética envolvida nesse exorcismo tecnológico que acordei hoje me sentindo mal realmente e não pelo computador. Corpo mole, marcas pelo corpo, febre e pois é... estou oficialmente no grupo dos com 'suspeita de dengue' - o que é uma categoria aparte de doença. Não é dengue, nem é gripe. É só a síndrome de ser loser demais.

2 comentários:

Anônimo disse...

Rodrigo, você foi linge demais. Sua literatura ultrapassou os limites de "você". Da próxima vez que eu te ver, voc~e vai ter que falar "Né que o danado voltou ao normal" ou então eu vou achar que você tá contratando alguém para atualizar isso daqui.

Rodrigo Almeida disse...

Oxe Sofia, tu acha mesmo que não rola uma ficção esperta aqui?