Não sei se todos têm essa mesma impressão, mas o 'Caso Isabella' virou um longo episódio de C.S.I. A situação está num nível que em ambientes públicos com televisão, o interesse se mostra semelhante a de dois amigos que discutem, enquanto comem pipoca, o seriado aqui citado. Novos dados, pistas, suposições. Sobram peritos dentro e fora da tela. A mídia também força o sensacionalismo e mostra o quanto pode fazer de sua grade uma trama policial arrojada: todos os dias em todos os meios é mostrado algo como imagens da Isabella no colégio, ou a professora fazendo uma homenagem, a leitura da carta da madrasta, últimas imagens flagradas no supermercado, entrevista no Fantástico com a mãe, advogados daqui, advogados de lá, investigadores, peritos, pedreiros, porteiro, mais peritos, vizinhos, a porra a quatro. Tratando-se de um caso real, a emoção envolvida é naturalmente muito forte; até agressiva. Esse caso se tornou uma espécie de programa 'Linha Direta' em tempo real. Tenho que admitir que o circo foi muito bem criado e agora os espectadores estão na mão, todos querendo saber quem foi o assassino. Fico assustado com essa histeria 'Quem matou Odete Roitman da vida real' e não me excluo dessa curiosidade mórbida (e não mórbida pela solução, afinal a solução é o mínimo que se espera, mas pelo prazer de ficar acompanhando todas as notícias vinculadas). A imprensa se aproveita desse interesse humano pelo horror e se excede - cheguei a ver uma matéria com uma psicóloga ensinando como contar sobre a morte para crianças. O 'Caso Isabella' é tudo que a mídia precisava pra ter duas semanas de matéria fresca como sangue: um caso chocante e misterioso envolvendo uma criança de classe média. Daí insere um suspense, uns suspeitos, investigadores, um drama familiar, impressões digitais e toma sensacionalismo.
Fico pensando quantas crianças morreram no Brasil desde o dia da pobre Isabella e quantas foram noticiadas em metade dos meios que estão focados nesse caso. Quantas morreram aqui em Pernambuco? Quantas em Recife? Bem típico da mídia brasileira ficar brincando de CSI pela televisão, enquanto os espectadores não percebem os problemas bem maiores que lhe cercam. Somos todos muito estúpidos. O povo é muito estúpido.
Por isso, dizem que lá do cemitério São João Batista, ainda podemos escutar, toda noite, a voz do Roberto Marinho repetindo uma mesma frase, através do suposto celular que foi enterrado junto ao seu corpo. A frase é inspiradora: "que comam, brioches".
Fico pensando quantas crianças morreram no Brasil desde o dia da pobre Isabella e quantas foram noticiadas em metade dos meios que estão focados nesse caso. Quantas morreram aqui em Pernambuco? Quantas em Recife? Bem típico da mídia brasileira ficar brincando de CSI pela televisão, enquanto os espectadores não percebem os problemas bem maiores que lhe cercam. Somos todos muito estúpidos. O povo é muito estúpido.
Por isso, dizem que lá do cemitério São João Batista, ainda podemos escutar, toda noite, a voz do Roberto Marinho repetindo uma mesma frase, através do suposto celular que foi enterrado junto ao seu corpo. A frase é inspiradora: "que comam, brioches".
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