Uma das aulas clássicas da minha graduação aconteceu na cadeira de Ética e Legislação para Jornalismo, ministrada pelo professor Alfredo Vizeu. Lembro que era começo de semestre e que cheguei quase vinte minutos para acabar a aula, com médio peso na consciência. Cheguei sorrateiro e sentei no fundão. Admito que só queria pegar a chamada - o que é típico de final de curso, afinal ninguém pretende ser reprovado de graça naquele ponto do martírio. Resumindo: essa cadeira funciona, inicialmente, como o tiro final em forma de culpa pela escolha e formação naquela maldita profissão vendida, para, em seguida, ressaltar a possibilidade de cada um como agente de reflexão e transformação do próprio meio (apesar dessa reflexão se mostrar um tanto incompatível com o mercado). É ao mesmo tempo uma disciplina difusora da podridão jornalística diante dos quase-quase jornalistas e uma proposta de outros caminhos e possíveis novas condutas. Trata-se de uma iniciativa interessante para um bando de alunos desacreditados. Logo percebemos o tom de contraste gritante entre o docente e os discentes.
A questão é que à essa altura do campeonato - passados quase 4 anos de universidade - já estávamos saturados por tudo que aconteceu antes, dos vários professores pífios, das ementas inexistentes à falta de estrutura como um todo. Estávamos inclusive acostumados ao meio sujo da comunicação e a descrença pelos tons de Rui Barbosa tomara ares agressivos. Os ideais jornalísticos e todo blá blá blá não passavam de piada velha. Lembro que antes de começar a escrever minha resenha sobre "A Imprensa e o Dever da Verdade", do autor aqui citado, peguei a comparação onde o próprio coloca a imprensa como veias respiratórias da sociedade e observei várias imagens fortes de enfisemas pulmonares, tumores, desfacelamento dos brônquios, além do clássico pulmão cancerígeno (aquele que tem na foto atrás da carteira de cigarro). Não parei de fumar, mas precisava de uma inspiração. Rui Barbosa é um cara esperançoso, de modo que não destruí suas idéias e nem faria isso, só mostrei como elas se mostram utópicas diante da realidade contemporânea de fato. Jornalismo é antes publicidade e defesa de interesses pra depois poder ser jornalismo. Enfim... voltando ao final da aula, aconteceu que quando Vizeu começou a chamar os nomes, enquanto eu já comemorava por receber presença na cara-de-pau, uma menina - chamada Ana Maria que hoje é editora do site super legal Dois Pontos - levantou o braço.
- Posso fazer uma pergunta, professor?
- Claro, claro - respondeu Vizeu
- Desculpa, mas não é meio hipócrita falar em ética ou na vigência de alguma legislação cordial num curso como Jornalismo?
A discussão que se seguiu, depois da provocação-pergunta, foi sem dúvida um dos momentos altos do meu curso de graduação. Naquele dia, meu repúdio extremo ao jornalismo deixou de ser absoluto por um motivo. Não foi graças a um argumento específico ou uma idéia bonita, mas por assistir alguém como Vizeu - que sabe como ninguém como um sistema de comunicação pode ser cruel - defender a unhas e dentes esse mesmo sistema. Não há como ceder um pouco aos seus argumentos e acreditar um pouco na força deles. Nunca vi minha turma tão envolvida num debate como naquele dia - saímos da sala ainda falando da aula. De algum modo, aquela pergunta colocava as escolhas e a posição de todos em xeque. Um xeque charmoso por sinal - mas sem a precisão do xeque-mate.
A questão é que à essa altura do campeonato - passados quase 4 anos de universidade - já estávamos saturados por tudo que aconteceu antes, dos vários professores pífios, das ementas inexistentes à falta de estrutura como um todo. Estávamos inclusive acostumados ao meio sujo da comunicação e a descrença pelos tons de Rui Barbosa tomara ares agressivos. Os ideais jornalísticos e todo blá blá blá não passavam de piada velha. Lembro que antes de começar a escrever minha resenha sobre "A Imprensa e o Dever da Verdade", do autor aqui citado, peguei a comparação onde o próprio coloca a imprensa como veias respiratórias da sociedade e observei várias imagens fortes de enfisemas pulmonares, tumores, desfacelamento dos brônquios, além do clássico pulmão cancerígeno (aquele que tem na foto atrás da carteira de cigarro). Não parei de fumar, mas precisava de uma inspiração. Rui Barbosa é um cara esperançoso, de modo que não destruí suas idéias e nem faria isso, só mostrei como elas se mostram utópicas diante da realidade contemporânea de fato. Jornalismo é antes publicidade e defesa de interesses pra depois poder ser jornalismo. Enfim... voltando ao final da aula, aconteceu que quando Vizeu começou a chamar os nomes, enquanto eu já comemorava por receber presença na cara-de-pau, uma menina - chamada Ana Maria que hoje é editora do site super legal Dois Pontos - levantou o braço.
- Posso fazer uma pergunta, professor?
- Claro, claro - respondeu Vizeu
- Desculpa, mas não é meio hipócrita falar em ética ou na vigência de alguma legislação cordial num curso como Jornalismo?
A discussão que se seguiu, depois da provocação-pergunta, foi sem dúvida um dos momentos altos do meu curso de graduação. Naquele dia, meu repúdio extremo ao jornalismo deixou de ser absoluto por um motivo. Não foi graças a um argumento específico ou uma idéia bonita, mas por assistir alguém como Vizeu - que sabe como ninguém como um sistema de comunicação pode ser cruel - defender a unhas e dentes esse mesmo sistema. Não há como ceder um pouco aos seus argumentos e acreditar um pouco na força deles. Nunca vi minha turma tão envolvida num debate como naquele dia - saímos da sala ainda falando da aula. De algum modo, aquela pergunta colocava as escolhas e a posição de todos em xeque. Um xeque charmoso por sinal - mas sem a precisão do xeque-mate.
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