quarta-feira, 16 de abril de 2008

Leituras

"Os primeiros textos que impunham silêncio nas bibliotecas não datam senão dos séculos XIII e XIV. É apenas nesse momento que, entre leitores, começam a ser numerosos aqueles que podem ler sem murmurar, sem 'ruminar', sem ler em voz alta para eles mesmos a fim de compreender o texto. Os regulamentos reconhecem esta nova norma e a impõem àqueles que não teriam ainda interiorizado a prática silenciosa da leitura. Pode-se então supor que antes, nas scriptoria monásticas ou nas bibliotecas das primeiras universidades, ouvia-se um rumor, produzido por essas leituras murmuradas, que os latinos chamavam de ruminatio. O silêncio é uma conquista recolocada em questão hoje. O problema se põe todas as vezes que uma prática cultural ganha aqueles que não tenham sido formados, por tradição familiar ou social, a recebê-la nas condições que ela exige. O cinema é bem sintomático dessa visão. Há hoje, nas salas de cinema, muitos espectadores que reagem como se estivessem diante de sua televisão. Eles falam, comunicam-se, comentam, como se a sala fosse um lugar em que o silêncio não se impusesse. Enquanto para outros espectadores, habituados a uma outra maneira de ser, o silêncio é uma condição necessária do prazer cinematográfico".

Roger Chartier
A Aventura do Livro: do leitor ao navegador (1997, p. 119-21)

Um comentário:

disse...

Pra mim no cinema incomoda, mas não tanto como na hora da leitura.

Bjo