Continuando a minha saga '
sou loser e não desisto nunca' fui ontem em Boa Viagem, aquela simpatia de bairro (sim, é uma ironia), pegar minha credencial para o Cine-PE. Tudo ok - podem acompanhar e colaborar, a partir de domingo, com a cobertura escreva-você-mesmo lá no
Dissenso. Depois do olhar da assessora de imprensa '
tem certeza que você é Rodrigo Almeida?', passei no Shopping Recife rapidamente e descobri que apenas uma lanchonete da praça de alimentação antiga tem suco de polpa pra vender. O resto é em lata, refresco nojento-péssimo e a maioria absoluta nem tem essa opção no cardápio. Tomei um suco de acerola. R$ 3 por 300 ml é pra se fuder no país tropical. Tudo bem, tudo bem, dou um desconto porque sempre fico com a pena do universo de quem trabalha 12 horas dentro daquele espaço '
loucura ou morte', mas nem só de pena vive o homem. E, provavelmente, eu menos que os outros homens. Prefiro a compaixão... ou a raiva, o cinismo, a grosseria, o descontentamento, a provocação, o abuso e todos os sinônimos que o quiroga-ponto-net pode encontrar para o signo de áries. Enfim, tomei o meu suco e segui o meu caminho. Aproveitando que já tinha saído de casa, fui ao Cinema Apolo assistir
A Marca da Maldade, de Orson Welles. Cheguei lá vinte minutos antes, super feliz com o meu senso de responsabilidade, super feliz que ia ver um filme ótimo, aí entro saltitante e pergunto se já estava vendendo ingresso. A moça, uma segurança charmosa de uniforme, responde:
- Não vai ter sessão hoje não.
- NÃO? SÉRIO? (e o Caps Lock aqui não é à toa)
- Não. A fita partiu no domingo e ontem já não teve e hoje também não vai ter.
- /o\ Poxa... nem saiu no jornal avisando né?
- Saiu não? - perguntou a mulher numa simpatia ímpar (e sim, agora é sério)
- /o\ Acho que não. Pelo menos, eu não vi nada no JC.
Fiquei lá com carinha de cachorro sem dono, olhando os folhetos, cartazes, buscando na mente alguma alternativa e consequentemente sem conseguir pensar em nada. Pra piorar tudo, desde quinta estou sem celular - o que está se mostrando uma experiência ótima de desapego, mas que não ajuda muito quando tudo o que você quer é ligar para algum amigo e pedir uma sugestão ou requisitar companhia. A mulher percebeu minha angústia, até porque fiz questão de não disfarçar o quão estava frustrado, e pegou um papel em suas mãos.
- Mas olha, no Cinema do Parque tem uma sessão que começa agora de 17:30. Deixa eu olhar aqui pro senhor pra ver qual é o filme.
- Eita, é mesmo, olha aí... - comecei a esboçar um sorriso, porque achava que era Piaf e seria ótimo rever no cinema.
- Olha aqui: de 17:30 o filme é "
Meu nome não é Johnny".
- ¬¬ Aff... ok, obrigado.
O cara sai de casa pra ver um Orson Welles e recebe recomendação de
Meu nome não é Johnny é pra surtar e sair quebrando tudo. Podia até fazer isso, numa linha João Guilherme Estrella, alegando, inclusive, que tinha cheirado cocaína - só pra jogar alguma referência à obra do diretor Mauro Lima e ao personagem do Selton Mello. Ok, entendo que a pobre moça, uma segurança charmosa de uniforme, só estava querendo ajudar. Não fiquei com raiva dela, longe disso, mas é que esse filminho brasileiro foi responsável pela última vez que tive vontade de sair do cinema no meio de uma sessão - antes disso foi há dez anos, aos 13, em Volcano, do Mick Jackson (O_O). Ambas as produções são muito, muito, muito ruins, daquelas que terminam e você acredita piamente que merece seu dinheiro de volta. Nem vou perder meu querido tempo elencando os motivos. Sequer vale a pena. Engoli toda a frustração, lembrei do Tibet, voltei pra casa bem triste, peguei um CDU / Várzea lotado (ao menos fui sentado), enfrentei o corredor-
caos-do-caralho-leste-oeste e cheguei em casa todo suado, começando a me sentir meio mal.
Liguei o computador, fiquei pensando qual filme devia assistir pra compensar e 'puft', o computador desliga sozinho e aparece como se o windows tivesse sido desinstalado. Surtei. Sério, eu vi a minha vida passar como um filme (a infâmia é meu pastor e nada me faltará). Tentei umas dez vezes reiniciar até que desisti, sentei no sofá e entrei em depressão. Minha mãe passou pela sala, me fitou com olhos esbugalhados e disse que eu estava anêmico. Todo dia ela diz que eu estou alguma coisa: amarelo, anêmico, magricelo, bêbado e por aí vai. Novamente com o Tibet na cabeça, reuni todas as minhas forças, fui até o computador, desconectei tudo, peguei a CPU nos braços, cantei canções de ninar, limpei, troquei a fralda, desenrolei os fios e religuei tudo. Né que o danado voltou ao normal. Foi tanta carga energética envolvida nesse exorcismo tecnológico que acordei hoje me sentindo mal realmente e não pelo computador. Corpo mole, marcas pelo corpo, febre e pois é... estou oficialmente no grupo dos com 'suspeita de dengue' - o que é uma categoria aparte de doença. Não é dengue, nem é gripe. É só a síndrome de ser loser demais.