Nunca tive um interesse natural por grandes épicos, os assistia meio pensando 'tenho de assistir mesmo, então vamos lá, melhor que seja logo', terminava adiando, adiando, de forma que criei um grande vácuo desse gênero no meu repertório. Estava sempre me esquivando, em especial pela longa duração de cada um deles: terminava correndo para a ficção científica ou para os filmes B de fantasia (o que inclui Simbad, Hércules, Xena e todos aqueles filmes mitológicos com efeitos especiais toscos que eu adoro). De qualquer forma, assisti alguns épicos. Ben-Hur (EUA, 1959, 212 min), de William Wyler e El Cid (EUA, 1961, 182 min), de Anthony Mann, eu já tinha visto quando garoto, meio que obrigado pela minha mãe que adora e adorava os grandes épicos e filmes religiosos - e, me desculpem, mas nem vou tentar psicanalisar essa oposição entre os nossos gostos. Re-assisti ambos há uns dois anos e ok, não mudaram minha vida nem para melhor, nem para pior. Tudo na mesma.
Enfim, só queria dizer que essa semana tive a disposição para Spartacus (EUA, 1960, 187 min), que eu pensava 'olha só onde você vai se meter, antes de ser um filme de Stanley Kubrick, é um épico'. Tinha receio de manchar uma carreira que me parece irretocável. Arrisquei e acho que se trata do contrário: antes de um épico, é um Stanley Kubrick. Que o diga a cena dos mortos no campo de batalha e a dos crucificados ao longo de toda uma estrada. Mas teve algo em particular que me chocou: o típico subtexto homossexual desses filmes, tinha nessa obra, por meio do roteiro do Dalton Trumbo, se tornado menos sub e mais, muito mais explícito. O filme é muito gay e não acredito que isso passe desapercebido aos pais de família brancos héteros que tomam essa produção como uma das maravilhas da sétima arte. Na linha eu sou Spartacus, quando todos gritam. Nos outros dois também existe o tom, mas é tão sutil que pode se passar por fraternidade, brotherhood, não desejo. Só para provar que Spartacus é mais explícito, olha só esse diálogo entre o Laurence Olivier (Crassus, despido) e seu servo Tony Curtis (Antoninus, semi nu), enquanto o segundo esfrega as costas do primeiro numa banheira:
Marcus Licinius Crassus:
Do you eat oysters?
Antoninus:
When I have them, master.
Marcus Licinius Crassus:
Do you eat snails?
Antoninus:
No, master.
Marcus Licinius Crassus:
Do you consider the eating of oysters to be moral and the eating of snails to be immoral?
Antoninus:
No, master.
Marcus Licinius Crassus:
Of course not. It is all a matter of taste, isn't it?
Antoninus:
Yes, master.
Marcus Licinius Crassus:
And taste is not the same as appetite, and therefore not a question of morals.
Antoninus:
It could be argued so, master.
Marcus Licinius Crassus:
My robe, Antoninus. My taste includes both snails and oysters.
Isso é porque eu não descrevi a troca de olhares, melhor assistir. Como pode aquele filme podre Alexandre causar tanta polêmica quando quarenta anos antes já existia Spartacus no mainstream? Às vezes eu acho que a permanência de certos choques é uma pura falta de memória. Já era para o povo está chocado há muito tempo. Fireworks. Fireworks.
Enfim, só queria dizer que essa semana tive a disposição para Spartacus (EUA, 1960, 187 min), que eu pensava 'olha só onde você vai se meter, antes de ser um filme de Stanley Kubrick, é um épico'. Tinha receio de manchar uma carreira que me parece irretocável. Arrisquei e acho que se trata do contrário: antes de um épico, é um Stanley Kubrick. Que o diga a cena dos mortos no campo de batalha e a dos crucificados ao longo de toda uma estrada. Mas teve algo em particular que me chocou: o típico subtexto homossexual desses filmes, tinha nessa obra, por meio do roteiro do Dalton Trumbo, se tornado menos sub e mais, muito mais explícito. O filme é muito gay e não acredito que isso passe desapercebido aos pais de família brancos héteros que tomam essa produção como uma das maravilhas da sétima arte. Na linha eu sou Spartacus, quando todos gritam. Nos outros dois também existe o tom, mas é tão sutil que pode se passar por fraternidade, brotherhood, não desejo. Só para provar que Spartacus é mais explícito, olha só esse diálogo entre o Laurence Olivier (Crassus, despido) e seu servo Tony Curtis (Antoninus, semi nu), enquanto o segundo esfrega as costas do primeiro numa banheira:
Marcus Licinius Crassus:
Do you eat oysters?
Antoninus:
When I have them, master.
Marcus Licinius Crassus:
Do you eat snails?
Antoninus:
No, master.
Marcus Licinius Crassus:
Do you consider the eating of oysters to be moral and the eating of snails to be immoral?
Antoninus:
No, master.
Marcus Licinius Crassus:
Of course not. It is all a matter of taste, isn't it?
Antoninus:
Yes, master.
Marcus Licinius Crassus:
And taste is not the same as appetite, and therefore not a question of morals.
Antoninus:
It could be argued so, master.
Marcus Licinius Crassus:
My robe, Antoninus. My taste includes both snails and oysters.
Isso é porque eu não descrevi a troca de olhares, melhor assistir. Como pode aquele filme podre Alexandre causar tanta polêmica quando quarenta anos antes já existia Spartacus no mainstream? Às vezes eu acho que a permanência de certos choques é uma pura falta de memória. Já era para o povo está chocado há muito tempo. Fireworks. Fireworks.
Um comentário:
Ben Hur é claramente gay.
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