segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Blá Blá Blá

Eu ia cometer a gafe de começar esse post perguntando se alguém mais achava que o Roberto Farias tinha o espírito de A Primeira Página (EUA, 1974), do Billy Wilder na cabeça, quando fez Toda Donzela tem um Pai que é uma Fera (Brasil, 1966). Só depois descobri que o segundo tinha sido feito antes do primeiro. Ficou confuso, mas acho que vocês entenderam o que quis dizer: por ter assistido o wilder antes do farias desloquei as produções de suas próprias cronologias para inserí-lasúnic e exclusivamente na minha cronologia. De qualquer forma, eu sei que é bem arbitrário fazer esse tipo de afirmação direta entre obras, sempre gera equívocos, afinal é muito mais uma relação fruto de nossas próprias cabeças e backgrounds que um minucioso plano dos diretores em questão. Não sempre, óbvio, mas aqui é assumidamente, então quero continuar aloprando em paz. De fato, além do nonsense das datas e países, tenho de admitir que as histórias nem são parecidas, longe disso até, mas acredito que a forma de capturar o riso e estruturar a comédia - e fazê-la funcionar muitíssimo bem - seja bastante semelhante. É uma fórmula bem conhecida e já banalizada como quase tudo nesse mundo: cria-se um clima de tensão, por um personagem estar escondendo 'alguma coisa' de um outro personagem; nós, espectadores, sabemos o que é essa 'alguma coisa', sabemos que se for descoberta antes da hora será uma tragédia e tudo passa a girar em torno das situações mais inusitadas para que a 'alguma coisa' permaneça secreta. Em ambos os casos, a tal coisa são pessoas: no nacional, a donzela sendo escondida do pai militar pelo amante e pelo amigo libertino no apartamento do libertino; no americano, um suposto criminoso comunista sendo escondido da polícia e dos outros jornalistas, numa sala de imprensa coletiva, pelo editor e jornalista de um mesmo jornal. É uma fórmula batida, convenhamos, mas acho que ainda funciona: senti a leveza que toda boa comédia deve nos causar. No clima sou cult de nascença, engajados por todos os lados, cinema novo, estética da fome e tudo mais que imaginamos que era o meio da década de 60, o que eu ia querer assistir para relaxar um pouco era uma comédia divertida, alienada e acéfala como essa. Se brincar não tão acéfala: comunistas inocentes e militares retrógrados não me parecem uma caricatura inocente. Talvez só não levante bandeira. Mas pra compensar, no ano seguinte teríamos Terra em Transe, daí poderíamos voltar a pensar e nos fazer de conscientes e politizados. Às vezes fico achando que, mesmo com todo meu respeito, os filmes e escritos do Glauber Rocha eram muito sérios e que o maior ensinamento do Cinema Marginal foi o de que um pouco de humor, insanidade e cultura de massa no discurso e na técnica não fazia mal algum. Não fez. Acho que Godard já sabia disso. Bang Bang.

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