Desde que cheguei no Rio, uma das coisas que mais me chamou a atenção foi a quantidade de velhinhos, velhinhos mesmo, andando de um lado para o outro sem qualquer tipo de acompanhante, afirmando dia-a-dia, noite-a-noite, passo-a-passo a sua autonomia. Pelo que tenho notado, a maioria deles são cariocas da gema, moram nos mesmos bairros da infância e parecem acordar dispostos a descobrir uma nova atividade a ser fazer: jogar futebol em Copabana, almoçar em algum restaurante, visitar algum amigo, tomar banho de mar, surfar, buscar os netos no colégio ao anoitecer, caminhar na Lagoa, cair na farra sem pudor. Se tem uma coisa que o Rio de Janeiro tem me ensinado é lidar com meu medo de envelhecer, estou diminuindo a melancolia que depositei nesse processo, a aposentadoria pode, de fato, ser o melhor momento para usufruir do tempo livre. Há uma maturidade diante das 24 horas que só depois dos cinquenta iremos descobrir. A cidade, por sua vez, parece dar sua contrapartida desde que se deu conta do poder aquisitivo desta parcela da população, de modo que é super comum encontrar todo tipo de serviço especializado para a terceira idade: dos bares aos bailes, da yoga ao turismo, do curso de teatro à porra a quatro. Até o sotaque deles é diferente: tem um swing malandro a modo antiga e não abarca o vocabulário baladas-nights-parceiro-cumpadi. Tenho pensado todos os dias nos velhos safados que encontram seus amigos de 40 anos no mesmo boteco que se conheceram.
Nenhum comentário:
Postar um comentário