Buscando um cabeleireiro barato e que me despertasse alguma simpatia, segui para a algazarra central de Casa Amarela disposto a não pagar mais que R$ 20 cravados, enquanto concluía que viver uma pindaíba financeira pesada, de tudo estar bem contadinho, de abandonar os luxo menos superficiais, era uma situação que alterava em definitivo a minha disposição, percepção e atenção diante dos bens e serviços oferecidos pelo mundo. Na impossibilidade de simplesmente optar pelo mais fácil, pelo mais perto, pelo mais confortável, incluí a bicicleta no meu cotidiano para economizar o ônibus e por outros motivos, resolvi problemas caseiros com as próprias mãos para economizar os profissionais, fiz feiras baseadas no essencial e nos supermercados mais em conta, de modo que em menos de duas semanas, tinha transformado meus hábitos mais básicos, assumindo uma posição muito mais criativa no sentido de propor alternativas para gastos, em parte percebidos como desnecessários. Para vocês verem, troquei até a cerveja pela cachaça e, confesso, a economia bateu forte no miaeiro. Foi, então, que hoje tive que encontrar um corte de cabelo barato: não que cortasse cabelo em lugares caros, longe disso, costumava pagar entre R$10 e R$25 - hoje paguei R$15 -, mas sempre, desde tempos imemoriais, pagava esse valor, porque cortava nos mesmos lugares, com os mesmos cabeleireiros, seguindo a lógica dos mesmos cortes. Nunca me dei ao trabalho de experimentar uma coisinha diferente, exceto quando fiz um estrago feio na minha cabeça e tive que raspá-la. Um amigo de longa data chamava meu corte de cabelo de panetone ou brócolis. Eu achava parecido com o corte de xorxinho. Foi então que encontrei um salão bem chamativo, salão não, alguma coisa hair design, expressão que me deixou receoso, já entrei nervoso perguntando o preço, o rapaz respondeu calmamente o valor, recomendou que eu sentasse para decidir o corte através de uns recortes de revista, depois que terminou o serviço, disse que o corte combinava com meus óculos, gostei disso e saí de lá com meu primeiro cabelo fashion da periferia. O melhor é que ao final ainda recebi um cartão fidelidade: "traga toda vez que voltar - e com certeza vou - e na sexta visita, o corte sai de graça". Yes. Também gostei de escutar histórias diferentes dos salões anteriores, enquanto o rapaz estava cortando o meu cabelo - aliás, ele lembrava muito o personagem Karasu de Yu Yu Hakusho - soltava alguns comentários para o seu secretário sobre um ex-namorado que estava para ser demitido do trabalho no supermercado ali perto. Sem dúvida, o melhor foi: "menino, tu acredita que ele colocou no currículo que sabe falar italiano? A bicha assistiu duas ou três novelas, Terra Nostra, Passione e outra aí, aprendeu meia dúzia de palavras, babbo, puzzona e capisce e já colocou no currículo que sabe falar italiano? Só tenho uma coisa para dizer quando encontrar com ele, viu? PER FAVORE".
2 comentários:
1mmmmm ... senti uma influência gabrieliana neste texto, hein?
como fugir da tendência da sakamoto morena?
pois é, menino, mas no meu caso laerte nem me mandou um inbox... =/
Postar um comentário