"Em meio às nossas frágeis emoções, nada se assemelha tanto ao amor como a jovem paixão de um artista dando início ao delicioso suplício do seu destino de glória e infortúnio, paixão repleta de audácia e timidez, de crenças vagas e desânimos inevitáveis. Àquele que, com pouco dinheiro, adolescente talentoso, não palpitou vivamente ao apresentar-se perante um mestre, sempre irá faltar uma corda no coração, não sei que toque de pincel, um sentimento na obra, uma certa expressão de poesia. Se alguns fanfarrões cheios de si acreditam demasiado cedo no futuro, só para os tolos passam por gente de espírito. Nesse sentido, o jovem desconhecido parecia ter um mérito genuíno, se é que talento deve ser medido por essa timidez primeira, por esse pudor indefinível que as pessoas fadadas à glória sabem ir perdendo no exercício de sua arte, assim como as belas mulheres perdem o seu no jogo da sedução. O hábito do sucesso enfraquece a dúvida, e o pudor é, quem sabe, uma dúvida".
Balzac em A obra-prima ignorada
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