Joaquim tomou nota em seu caderninho que a diferença entre pegar um ônibus na sua cidade natal e em outra cidade qualquer se fundamentava no simples fato de que na primeira, ele necessariamente entrava, sentava, abria um livro e dormia, enquanto na segunda, terceira ou quarta, ele entrava, sentava e observava atento as miudezas do mundo. Todo santo dia que passava três vezes o tempo de viagem, entre a sua casa e o trabalho, apertado dentro de um coletivo lotado, com idosos passando mal, crianças chorando e um cheiro de suvaco daqueles, desejava avidamente matar o prefeito das mais criativas formas. Joaquim matutava com fé: lembrava da overdose de suco de cenoura que lera em algum livro e prosseguia confabulando até chegar na tartaruga arremessada por uma águia que matou o dramaturgo grego Ésquilo. Aliás, numa semana dessas, ele resolveu tomar uma cerveja e doze quartinhos com o líder da torcida organizada do maior time das redondezas para, finalmente, conseguir mobilizar a verdadeira revolução na sua cidade. Terminaram bêbados, não pagaram a conta, mas voltaram de táxi. Deixaram os protestos para outro dia.
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