Como bons desconhecedores da nossa história, estamos rodeados de ruas, avenidas, praças, esculturas e colégios nos quais os nomes prestam homenagens a figuras supostamente importantes, mas cujo referente, justificativa e atuação política ou artística nos escapam. Se por um lado fincamos honras a homens como Henrique Dias ou Frei Caneca, símbolos da luta pela liberdade no estado, vez ou outra confundimos as raízes desse merecimento, o que resulta contradições como o da Escola General Ernesto Geisel no município de Santa Bárbara, na Bahia, ou do Centro Educacional Fernando Collor de Mello em Nossa Senhora do Socorro, em Sergipe. É no meio desse dilema que o Museu do Estado de Pernambuco abriu há poucos dias a exposição Mauá - O Empreendedor, resgatando através de fotos, ilustrações, gravuras, quadros e mapas, a figura homônima, conhecida no senso comum como industrial, banqueiro, diplomata, sendo um dos principais atores do capitalismo brasileiro no século XIX. A curadoria é do designer Victor Burton.
No entanto, no debate entre especialistas, Mauá não é visto com o mesmo ufanismo que produz rótulos como “pioneiro na indústria”, “incompreendido pela sociedade rural e escravocrata” ou “guerreiro independente do progresso brasileiro”. Contrariando a maioria dos biógrafos, para o Prof. Dr. Carlos Gabriel Guimarães do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense, o Barão de Mauá não passa de um mito nacional, “na juventude era negociante de escravos, pertencia a Classe Senhorial, tinha fábricas com 1/3 de escravos e não só isso, estava intimamente relacionado com o Estado imperial, monarquista e escravista”. Bem distante da imagem positiva que povoa nosso imaginário popular, bastante influenciado pelo filme Mauá - O Imperador e o Rei, dirigido por Sérgio Rezende, que coloca o Barão, interpretado por Paulo Betti, como defensor do fim da escravidão por razões econômicas. Aliás, 'houveram boatos' que na abertura da exposição, Betti esteve presente vestindo o figurino da produção cinematográfica.
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