Depois de dois dias de protesto, Ricardo acordou meio naquela ressaca política, meio solitário e percebeu meio em dúvida que a coisa estava meio assim: "começou o protótipo de guerra civil, cada um que pegue sua faca e canivete e mate ~o outro~ por razões de diferença de classe, raça, sexualidade, região, bairrismo, marca da cueca, time de futebol, gênero musical, doença, traços indígenas, profissão, preferência partidária, idade, roupa feia, alergia, placa do carro, tamanho da catota, tipo de cabelo, gosto cinematográfico, religião, jeito de andar, forma de falar, beatles ou stones, olheiras, tamanho do pau, tamanho da mão, sonhos atrelados, escolaridade, horas de trabalho, peso, força da peruca, cor do olho, carne ou alface, orelhas grandes, estilo da barba, perfume, prazer, inveja, recalque, grelo gerando na alta, truffaut ou godard, famosidades, saber nadar, número do sapato, posição na cama, casacos de pele, nariz torto, antecedentes criminais, performance, casa ou prédio, nível alcóolico, cores prediletas, gosto artístico, frutas prediletas, animais prediletos, número, lugar, objeto e todas as outras possibilidades dementes a sua escolha". Ricardo teve certeza que uns nunca gostaram muito dos outros, apenas engoliram a raiva enquanto podiam. O tempo da tolerância tinha se esgotado.
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