terça-feira, 7 de junho de 2011

Miniquadros

Numa conversa informal com a artista plástica Ana Vaz, comentei que uma das dificuldades em trabalhar com crítica de arte - estou há um mês escrevendo para a Folha de Pernambuco e ando publicando no blog versões livres das matérias - era a impossibilidade de visitar todas as exposições, consequentemente não tendo a oportunidade de estar diante da dimensão física das obras. O mesmo acontece com quem não aproveita algumas mostras fundamentais e na maioria das vezes gratuitas que acontecem na cidade, tendo contato - se muito - com as pinturas ou esculturas apenas por imagens digitalizadas, perdendo o significante direto, a disposição espacial na parede, o diálogo a partir da organização e das distâncias. Antes que comecem a gritar sobre as potencialidades da reprodutibilidade técnica, todos sabem que entendo, concordo, concordo mesmo, mas nesse instante dou-me ao direito de defender o princípio anterior ao menos como inspiração básica para os que forem visitar a exposição “Pernambuco em Miniquadros”. Digo isso certo do impacto que o visitante terá diante do vasto mosaico composto por cerca de 700 peças de dimensões entre 11 por 16cm e 20 por 20cm, de tal modo a serem desafiados a encontrarem no meio da multidão, do excesso, no limite da percepção, duas, três ou cinco obras que os afetem e os destronem. O conjunto exposto, que percorre toda segunda metade do século XX até hoje, foi produzido por quase 500 artistas de distintas gerações e relações com o Estado, com participação de cânones como a própria Ana Vaz, Gil Vicente, Francis­co Brennand, Montez Mag­no, Badida, Gilvan Samico, Tereza Costa Rego e anônimos, semiconhecidos, daqueles que provavelmente nem eu, nem ninguém ouviu falar. Para o artista e crítico José Cláudio da Silva, responsável pelo texto curatorial, os miniquadros representam “uma prova da inocência, pureza e espontaneidade, onde o pintor se desarma e traz à luz o que lhe vai n’alma, a síntese da sua estética”. A prova final, contudo, reside num detalhe muito simples: mesmo que hoje estejam sentenciados em coleções, diversos destes trabalhos circulavam como presentes, de artistas para amigos, de artistas para colecionadores, de artistas para amantes ou familiares. A cadeia era inicialmente intermediada por carinho e, como tantas outras, terminada em escambo.

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