quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Dissertando

Os cineclubes se ergueram na história do cinema como símbolo emblemático do princípio, de fundo heurístico, que defende o simples ato de assistir filmes como o melhor caminho de apreender e vivenciar a experiência do audiovisual: o se entregar diante da tela deixa o seu lado banal para assumir uma dimensão ritual. Assim sendo, esta posição primeira envolve uma série de outras derivadas na composição política de um campo cinéfilo consistente. Temos num microcosmo específico sem fins lucrativos, a partilha e busca do conhecimento de todos os espectadores para com todos; uma socialização de imaginários e mistura de referências que se distancia da hierarquização comum à pedagogia clássica – algo que se concretiza através da gênese curatorial das sessões e do diálogo exercido no debate que as sucede. A participação sistemática leva-nos inevitavelmente a uma reconstrução do olhar, a um refinamento da oratória e a um alargamento da razão, num clima de consonância e dissonância, que nos coloca diante de distintos pontos de vistas para com projetos estéticos dos mais diversos.

Portanto, o motivo de se empenhar na construção de uma sessão autônoma e de refletir sobre os caminhos alternativos para distribuição de filmes pressupõe uma inquietação com a realidade – inquietação com a dominância de modelos em substituição da coexistência – o que termina por se exprimir na consciência de que as exibições cineclubistas exaltem um caráter excepcional. Seja porque as obras não foram lançadas comercialmente no país, seja porque justamente são nacionais e não encontraram praça para circular, seja porque a cidade onde a iniciativa ocorre não possui um cinema sequer . A difusão de singularidades como norte a ser perseguido nos desperta para a importância de re-entrelaçar (e/ou estabelecer) o longo trajeto de codificação e decodificação , no sentido proposto por Stuart Hall (2003), através de circuitos subalternos de bens culturais.

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