sexta-feira, 20 de março de 2009

Morbidez

Talvez eu até seja careta, mas a coisa mais absurda que vi nos últimos tempos, de me chocar e me deixar puto da vida, foi ver uma entrevista que saiu no caderno de Cidades do Jornal do Commercio (no último dia 17) com um cara de 23 anos que perdeu a esposa, um filho, o irmão e um sobrinho num acidente de automóvel. Repetindo, a esposa, um filho, o irmão e um sobrinho. Ele acompanhava, de moto, o carro onde ia a família quando o carro bateu de frente num caminhão. Agora sério mesmo, como alguém, jornalista, não-jornalista - a matéria saiu sem assinatura - tem a capacidade (leia-se cara-de-pau) de chegar para um cara desse, enquanto ele está na porra do IML esperando a liberação dos corpos, e perguntar coisas do tipo:

JC – Você viu o acidente?
JOSÉ WELLINGTON – Não. Eu ia de moto, na frente. Depois não vi mais o carro e voltei. Quando cheguei ao local o acidente já havia acontecido.

JC – O que você viu ao voltar?
JOSÉ WELLINGTON – Ainda estava todo mundo dentro do carro.

JC – E já estavam mortos?
JOSÉ WELLINGTON – Meu sobrinho ainda respirava, mas não havia como tirá-lo das ferragens. Só ele deu sinal de vida.

JC – Pelo que você soube, de quem foi a culpa?
JOSÉ WELLINGTON – Não sei informar com certeza. O caminhão pegou o lado do carro. O povo diz que o carro foi para cima do caminhão e eu não sei ao certo.

JC – Vocês pegaram a estrada a que horas?
JOSÉ WELLINGTON – Saímos da casa da minha irmã, onde tínhamos ido passar o fim de semana, às 3h40 porque tínhamos que trabalhar. O acidente aconteceu por volta das 4h30.

JC – Vocês vinham de uma festa? Seu irmão tinha bebido?
JOSÉ WELLINGTON – Meu irmão não bebia. A gente tinha ido passar o fim de semana em Jundiá (AL), onde houve carnaval fora de época. Todo ano fazíamos esse passeio.

JC – Seu irmão dirigia bem?
JOSÉ WELLINGTON – Sim, fazia tempo que ele dirigia, mas tinha comprado o Fiat há uns dois meses.

JC – Como você se sente?
JOSÉ WELLINGTON – É preciso ter muita força para superar essa perda grande. Não sei se vou conseguir.

JC – Você já pensou no seu futuro sem eles?
JOSÉ WELLINGTON – Quem sabe do meu destino é Deus. É uma situação difícil, não há como mudar, não tem como.