As salas de cinema, herdeiras da lógica arquitetônica dos teatros, foram construídas de forma que a platéia ficasse ordenada em filas e com a atenção direcionada a um único ponto de luz, a tela ou o palco, o que tende a desvincular os espectadores de sua própria presença e da presença dos outros. A velha história da solidão coletiva. Para assistir imagens em movimento, como costumamos fazer, a organização vertical e horizontsal em questão funciona muito bem, mas, infelizmente, não me parece favorecer, na mesma medida, a realização dos debates após as sessões – iniciativa louvável assumida pelo Janela Internacional de Cinema que apropria uma antiga prática cineclubista e que, de fato, possibilita a criação de vias diretas de diálogo entre os realizadores e o público. Acontece que no momento do bate-papo descontraído, há uma distância inevitável de quem está na frente, no palco, com quem está na platéia, além de que a própria platéia fica descompassada entre si, já que escutar as perguntas dos outros se torna uma tarefa complicada. É uma mera consequência da arquitetura. A formalidade não deixa de existir, mal entendidos são comuns e o silêncio dos presentes na hora das perguntas sempre deixa o ar um tanto constrangedor. A distância não se desfaz e, então, apela-se para o Janela Crítica que também não está lá cheio de perguntas. Não estou questionando a legitimidade do debate, pelo contrário, estou assumindo a importância dele e tentando pensar e achando importante que pensemos em lógicas eficientes de funcionamento. De antemão, não tenho uma resposta.
3 comentários:
vc é aquele cara que perguntou pq os diretores do 'longa vida ao cinema cearense' fizeram aquela cagada de aparecer no filme?
Pois é, ficou parecendo que eu fiz essa pergunta, mas, na verdade, era o contrário disso. Eu quis dizer - mas admito que me expressei da pior forma possível - que de Vertov ao cinema contemporâneo, o recurso de filmar a equipe de filmagem tinha passado de vanguarda para tique de diretor, quase que uma obrigação em alguns casos. O que faltei completar foi que usar hoje pode parecer sempre tique, mas no caso de 'Longa Vida ao Cinema Cearense', acho que eles pularam a armadilha, não caíram no tique e deram um toque de gesto político ao contraplano, afinal a marcha era a marcha dos personagens, mas principalmente a marcha da própria equipe de realização.
Acho que o Leonardo Sette não escutou minhas palavras - afinal estava algumas filas atrás - escutou apenas o resumo do que eu disse pelo que kleber repetiu no microfone e terminou distorcendo tudo bonitinho na sua imponente fala.
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