quarta-feira, 3 de setembro de 2008

O Sétimo Continente (1989), de Michael Haneke

Pessoal,
daremos prosseguimento ao segundo ciclo de exibições hoje (09 de setembro), no Mini-auditório 1 do Centro de Artes e Comunicação (CAC), por volta das 17 horas. Todos estão convidados. A escolha do filme dessa vez fica a cargo de nosso querido graduando em jornalismo Hermano Callou e só para diminuir a surpresa, ele já nos adiantou que levará um filme oriental. Mais um, já que no primeiro ciclo ele foi responsável pelo raro tailandês Mal dos Trópicos, do impronunciável Apichatpong Weerasethakul. Na semana passada, para abrir o segundo ciclo, passamos o primeiro longa-metragem para cinema do diretor austríaco Michael Haneke (famoso por Funny Games, A Professora de Piano, Cachê). A obra em questão, O Sétimo Continente (1989), um roteiro negado na televisão e por isso realizado para tela grande, é o primeiro episódio da chamada (e gostaria de saber se o próprio diretor também a chama) Trilogia da Era Glacial, completada pelo Benny's Video (1992) e por 71 Fragmentos de uma Cronologia do Acaso (1994). A minha escolha se deu em duas frentes. A primeira pelo discurso pessimista levado ao limite sobre a 'coisificação' e 'mecanização' da humanidade, discurso que ganha força a partir do momento em que o cineasta se apropria de uma família-metáfora da classe média, sua rotina pré-moldada e seus anseios burgueses, para fincar um caminho de esvaziamento espiritual completo que os leva a uma autodestruição física e existencial também completa. Quase afirmando que a civilização ocidental inteira caminha nesse sentido: uma carta só com boas e fugazes notícias que logo se transforma numa carta de suicídio. A segunda frente diz respeito ao risco de se filmar um longa-metragem inteiro, de quase duas horas, colocando o plano-detalhe e a câmera parada como recursos centrais – imbricando a violenta frieza do tema dentro da forma - e conseguindo através disso, caracterizar seus personagens não tanto pelos seus rostos ou diálogos, mas por suas ações cotidianas, banais e, principalmente, por seus objetos de consumo. Mesmo com longas seqüências de imagens fechadas – o que gera uma impessoalidade e uma fragmentação inicial – logo nos acostumamos, nos angustiamos e conseguimos visualizar uma realidade que extrapola as bordas da tela. Vemos um prato de cereal e visualizamos a cozinha, vemos um sapato sendo amarrado e sabemos como é o banheiro. Vemos a televisão ser destruída, o dinheiro sendo jogado pela privada e as datas de óbito anotadas na parede da sala de estar. Haneke perturba porque sempre fica o receio de ter de concordar incondicionalmente com ele. Para os interessados, o filme pode ser facilmente encontrado no fórum Making Off.
Enfim, compareçam hoje se não tiveram nada mais interessante pra fazer.
Abraços,
Rodrigo
SERVIÇO:
Filme Surpresa
Segundo Ciclo de Filmes
Todas as terças-feiras (sempre às 17:00)
Miniauditório 1* / CAC / UFPE
* O Miniauditório 1 fica no térreo do Centro de Artes de Comunicação (CAC). Ao entrarem no Centro e irem em direção à lanchonete, vocês pegam a primeira à direita, onde tem uma lojinha de livros, e já é nesse corredor estranho (do lado esquerdo).

Um comentário:

Rafael disse...

Cara, acabei de ver o filme. Você o descreveu com perfeição. Parabéns.