Henrique era só mais um desses meninos que escolheram biologia por acaso, que não sabiam o que fazer, escolhiam pela matéria no colégio, pelo tesão na professora, pela secreta vontade de produzirem seus próprios lolós, nem imaginavam que estavam costurando ali, a decisão fundamental que os definiria para o resto da vida. De qualquer forma, na hora de marcar um X, escolheu com convicção, passou a se interessar verdadeiramente, embarcou na botânica e não pretendia mudar de curso, não pretendia pelo simples temor em deixar de lado e não encampar nenhum outro. Bem que faria filosofia ou psicologia; terminaria em jornalismo; jamais, administração. O caso de Arlindo foi diferente. Fez jornalismo convencido de que era o que mais queria na vida, desistira da pressão da família para fazer Direito, tinha ficado numa tremenda dúvida por Letras por razões óbvias, mas ao ver a grade curricular, decidiu pelo primeiro porque tinha ao menos algumas disciplinas práticas. Daí fez também Relações Internacionais, pra ter uma certeza de curso, caso não passasse na UFPE, e porque sempre gostara de ler sobre guerras, desde àquelas bem antigas, guerra do Peloponeso, Guerras púnicas, de modo que em algum momento bateu o destempero de ser correspondente em conflitos atuais. Hoje não faz mais sentido algum. Antes de se formarem, Henrique e Arlindo pensaram: "decidir os próximos 50 anos aos 17 é foda".
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