Os hippies estão mortos. Os punks não passam de piada. A contestação parece apenas habitar as lembranças dos que viveram intensamente numa nostálgica década de sessenta ou setenta. Agora tanto faz. Ninguém está mais interessado em mudar o mundo, querem apenas trocar as roupas, retocar a maquiagem, mudar o próprio visual. Somos os filhos dos que viveram a ditadura; dos que foram torturados ou dos que fugiram para o exílio. E da forma como nos contam, parecem cheios de orgulho apesar do tom de lamento. Não vivemos nenhuma grande guerra, nenhuma grande depressão, nenhuma grande coisa. Parecemos contentes com o que há de pequeno em nossas vidas.
Fazemos parte da geração do depois, do não acontece. Somos o barco perdido num mar sem ondas, a folha seca se deteriorando sem nunca ser levada pelo vento. Vivemos reféns da impossibilidade, como se estivéssemos presos entre os fatos da história e o nosso espírito do tempo fosse justamente o de se entregar ao hiato. Fazemos parte de uma geração que sente ter nascido tarde demais e que se embriaga da sensação de que morreremos antes da hora. Talvez, para sobreviver, devamos pensar que a nossa revolução, a revolução do depois, seja a pequena revolução em nós mesmos ou nos contentar, com sorrisos colgate, que não há mais revolução alguma a ser feita.
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