sexta-feira, 5 de setembro de 2003

Duelo

Aos olhos verdes, e dependendo da incidência do sol, verde-escuro, verde-claro, verde-musgo, parecia tão improvável e tão lentamente os olhos expressavam o medo, o receio, até formarem as lágrimas que ele nunca teve coragem de mostrar. Logo veio o mal estar, a vontade de se ausentar, o peso mórbido diante de um maldito amigo que conhecia antes mesmo de nascer. Tão sem movimentos veio a tona a conversa de dois dias atrás, o esforço danado para se esconder, a queda-de-braço, a bituca de cigarro, a insegurança que fingiam não existir. Viram-se fugindo, se evitando e não resistindo. Como nas outras vezes, uma espécie de ira plácida dominou os seus olhos, contaminou com raiva todos os seus freios, esculpindo uma vontade de lançar o outro na parede cento e vinte vezes. Comportavam-se às vezes como dois cães raivosos se estranhando sobre a grama. Orgulhosos, negavam a manipulação para identicamente negarem o perdão, ambos usavam de seus comentários inocentes como gatilhos de armas equipadas com silenciadores, de forma que na maioria dos casos eram precisas poucas palavras. Poucas semanas foram o suficiente para que tudo estivesse montado para a famigerada separação, sem despedidas ou panos, caminhavam como cowboys em sentidos contrários e então, deixavam o queijo de lado e se abraçavam sem chorar.

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