De todos os meios de comunicação de massa, a televisão é o que menos consigo levar realmente a sério, afinal sempre a associo com a banalidade ou com o entretenimento barato. Seja no momento de se produzir para o meio em si, seja no momento de se interligar a ele. Toda a constituição qualitativa do sistema soa rasteira, descomprometida e vulgar. São poucos os programas relevantes e poucas as pessoas realmente preocupadas com isso. Os dias se seguem, o foco não muda e o ibope permanece o mesmo. Uma sonolência até constrangedora. Tanto por quem produz, como por quem consome. O aparelho de TV pode ficar ligado horas e horas, mas certamente são poucas, as pessoas que prestam atenção no que acontece diante delas. O meio promove uma espécie de olhar desatencioso, dormente, cansado. Para não dizer pouco crítico, senão indiferente. Também são raras as pessoas que param exclusivamente para se dedicar ao ato de ver TV. Assistem enquanto comem, enquanto conversam, enquanto arrumam a casa, enquanto cortam a unha, qualquer coisa. A partir disso é que me pergunto se esses telespectadores chegam a perceber qualquer diferença entre os recursos estilísticos, usados por parte dos programas. Seja uma transmissão direta, uma entrevista em estúdio ou uma reportagem gravada. Também me pergunto se essa variedade de recursos possui, pragmática e inconscientemente, alguma conseqüência sobre esses mesmos telespectadores. Seja num programa de auditório, num telejornal ou num humorístico. Pensando assim, fica fácil questionar os critérios usados por qualquer estudo semiótico, onde causas e efeitos são interligados, dentro de uma lógica quase aleatória de tão particular. Cansei de todo esse discurso (pseudo)científico barato, genérico e redutor, que não leva em conta nem metade dos mil aspectos que cercam, em todas as instâncias, cada observador dos bilhões de observadores possíveis. Semiótica sequer me parece uma ciência (apesar de se afirmar enquanto tal), mas um ponto de vista – de cima para baixo. Definitivamente acho muito difícil afirmar que uma transmissão direta provoca essa ou aquela reação para quem assiste um telejornal. A maioria não está nem prestando atenção. Tudo soa automatizado.
A imagem em movimento, de fato, seduz invariavelmente os olhares – na sala, num bar, num ônibus. A televisão, entretanto, não consegue tratar a informação sem torná-la material reciclável. As idéias gerais ficam e os detalhes são sucedidos por novos detalhes em poucos segundos. O meio não consegue criar uma situação própria, afinal está presente numa realidade extremamente difusa. Não prende, apenas entretém, faz passar o tempo. O jornal impresso, por sua vez, se utiliza da leitura como um ato de isolamento, assim como o cinema que cria um clima propício para aquelas cem pessoas, numa sala escura. Esses meios possuem uma maneira de colocar o espectador, num universo paralelo, particular. A televisão não. E por mais que os aparelhos fiquem ligados o dia inteiro dentro de uma casa – e em muitas realmente ficam, o ar difuso continua o mesmo. Assistem enquanto comem, enquanto conversam, enquanto arrumam a casa, enquanto cortam a unha, qualquer coisa. Além disso, poucos se preocupam de fato com a temporalidade do que se passa; muitos sequer sabem quando um repórter está falando ao vivo ou não. Nem se interessam. Falo isso do mundo real, das pessoas reais e consequentemente da vasta maioria consumidora. Porque nós, que somos especificamente de comunicação, possuímos outro olhar – até viciado por um lado. De fato a televisão toma uma nova representatividade. Estamos sempre acostumados a analisar e analisar causas, conseqüências, efeitos, estruturas cognitivas, signos e signos e signos tudo relacionado com os meios de comunicação. Os semióticos, em especial. Mas às vezes esquecemos que, querendo ou não, essa é uma discussão muito restrita, muito acadêmica. Apenas nós damos importância a ela. A maioria nem nota. Sequer vivencia esse ou aquele efeito que um semiótico afirma sentirmos todos a partir de determinada causa. E eu sempre me pergunto se não há um pouco de esquizofrenia nisso tudo.
Não esqueçamos as idiossincrasias.
Um comentário:
só pra aparecer!
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