Somos viciados em nossos próprios corpos. Desde pequenos, despertamos um impulso exploratório, já bem cartografado pela psicologia, inicialmente pelo território conhecido e mapeado; depois, partimos para as rugas e curvas de nossos pais, com direito a pelos que nos causam repulsa, até nos darmos conta, seja num joguinho de "mostro o seu, que eu mostro o meu", seja numa espiada no banheiro da natação, seja numa aula de catequese em que alguém esqueceu a calcinha, seja num daqueles infernais banhos de praia que os pais jogavam todas as crianças juntas dentro do chuveiro, que os amiguinhos e amiguinhas possuíam e não possuíam um corpo similar ao nosso. Daí ficamos mais velhos e só ampliamos o campo de exploração, seja mediado pelo desejo, por um ímpeto erótico ou pelo desprezo: tentamos manter o corpo da melhor maneira possível e, mesmo depois de experimentar algumas dezenas deles, permanecemos curiosos para milhões de outros. Acredito que a monogamia essencialmente não me atinge pela simples curiosidade que tenho pelos corpos, pela sinuosa diferença entre eles, por uma certa obsessão cronenberguiana em sacar proporções, distorções e aparelhagens. Sinto que preciso experimentar boa parte da humanidade até me decidir e isso provavelmente deve durar a vida inteira. Decerto, nem sei bem porque comecei a escrever sobre isso, o intuito desse post era apresentar um artista australiano radicado em Londres, Ron Mueck, cujo estilo hiperrealista de interesse antropomórfico, assim como o manejo preciso com dimensões e escalas alteradas, parece levar essa curiosidade natural dos sujeitos, ao longo de toda a vida, por patamares não dantes percorridos até atingir um campo de absoluto desconforto.
In Bed (2005)
Mask II (2001-2002)