Há quase um mês, entrei com bom humor no facebook - o que é bem raro numa manhã tão quente - e a primeira coisa que apareceu no meu mural foi um comentário de um cineasta pernambucano mais famoso pelas festas que pelos filmes, que, aproveitando de sua imensa sabedoria, compartilhou um raio de ignorância entre os seus colegas: "Pensando bem até que os tempos da ditadura não eram tão mal assim: os músicos faziam músicas melhores e mais ousadas, o cinema brasileiro tava no auge da devasidão pornochancheira, tinha emprego pra todo mundo e ainda torturavam um monte de gente chata, pseudo-intelectual. O Brasil hj tá chato, careta, pseudo-democrático e o povo sem atitude". Daí foi aquela coisa da província virtual, rolou a polêmica básica, cada um que soltasse sua demência política, fiquei particularmente puto, estragou meu dia, mas respirei fundo e conclui que o melhor, naquele momento e espaço, era ignorar. Por um lado até entendo o sentimento de vazio e o desencanto reativo que ele quis expressar, quase concordo com o discurso arranhado sobre uma democracia cambaleante, na pior das circunstâncias escreveria isso no auge dos meus 17 anos cansado de escutar as peripécias revolucionárias dos meus pais. No entanto, não resta dúvida que o cineasta mais famoso pelas festas que pelos filmes e descendente da cultura latifundiária não possui o mínimo discernimento da dimensão do que estava defendendo, encarnava nada menos que a equação de primeiro grau que interliga a sensação de impotência à síndrome do descontentamento, resultante de um olhar completamente raso sobre a realidade. Alguns tentaram dar uma dimensão histórica baseada em experiências do regime brasileiro, sumiço de pessoas, os filmes retalhados, arquivados, censurados, mas fui lendo comentário a comentário absolutamente certo de que nenhum conseguiria fazê-lo compreender. Pelo contrário, faria com que no ápice de sua soberba e vaidade, se achasse cada vez mais um cineasta bem esperto. Daí tive uma ideia simples que só materializo aqui: pensei em atualizar para a sua vidinha burguesa e artística, o dia-a-dia do 'cinema é uma loucura' como diria a menina da falsa entrevista, pedindo para ele imaginar uma ditadura em que os militares dessem choque no ovo de quem fazia filme ruim. Com certeza o cu dele ia ser o primeiro a tremer.
4 comentários:
Um dos autores que gosto de ler é Braudel, muito pelo seu engajamento, mas muito também por sua forma de escrita, rica em metaforas fortes e concretas. Da dinâmica da história ele tece uma comparação com o mar, cuja parte mais visível e propalada é sua espuma que flutua sobre as ondas, mas as forças que comandam o movimento do mar, as correntes marítmas e mares, são invísiveis...a visão desse petit cineasta tem aquele foco crasso de quem vive de espuma, uma perspectiva pequena, um senso comum divertinho pra classe média esteta.
Mto bom... ganhei o dia só em saber que nãooo, não estão todos cegos!!!
putz.. já vi post pior desse cineasta dj...pode crer.
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