"Geralmente, começo as minhas lições sobre o Método Científico dizendo aos meus alunos que o método científico não existe. Acrescento que tenho obrigação de saber isso, tendo eu sido, durante certo tempo pelo menos, o único professor dessa inexistente disciplina em toda a Comunidade Britânica. Há vários sentidos para afirmar que minha disciplina não existe, e vou mencionar alguns deles. Em primeiro lugar, minha disciplina não existe porque, geralmente, as disciplinas não existem. Não há disciplinas; não há ramos do saber, ou melhor, da investigação: apenas existem problemas e o impulso de resolvê-los. Uma ciência como a botânica ou a química (ou digamos a físicoquímica ou a eletroquímica) são, asseguro, uma mera unidade administrativa.
[...]
E se tomando a inexistência das disciplinas, entretanto, o Método Científico ocupa uma posição peculiar ao ser incluída como menos existente que as outras disciplinas já inexistentes.
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Acredito que não há mais que um caminho para a ciência e para a filosofia: encontrar um problema, ver a sua beleza e apaixonar-se por ele; casar-se com ele, viver feliz até que a morte os separe, a não ser que encontre um problema mais interessante ou, ao menos, naturalmente, que obtenha uma solução. Mas ainda que encontre uma solução, pode descobrir, então, para sua satisfação, a existência de toda uma família de encantadores, se bem que talvez difíceis, problemas-filhos, para cujo bem-estar podes trabalhar, com um objetivo, até o fim de seus dias".
Karl R. Popper,
Acerca da Inexistência do Método Científico - Conferência proferida na reunião de The Fellows of the Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences em Stanford. Novembro, 1956.
Um comentário:
O método científico existe, sim, e é por causa desse senhor enfadonho acima citado. Existe de um jeito castrador e limitador, direcionando o nosso olhar de um modo muito específico, o que nos faz ver algumas coisas e ignorar completamente outras tão ou mais importantes, mas que não pertencem ao escopo do que é "científico" - entendido como interpretável através de uma linguagem de racionalidade que é orientada a dispensar o que não entra em seu modelo. E, infelizmente, eu sou um agente desse jeito de olhar o mundo. =/
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