quarta-feira, 29 de abril de 2009

La Muerte de un Burocrata

"Ainda hoje pode-se dizer que o cinema está marcado por sua origem de classe. Apesar de, na sua curta história, ter tidos momentos de rebeldia, de buscas e de autênticas conquistas como expressão das tendências mais revolucionárias, o cinema continua sendo em grande medida a encarnação mais natural do espírito pequeno-burguês que animou seu nascimento".

Tomás Gutiérrez Alea,
diretor cubano que realizou, entre outros, Memórias do Subdesenvolvimento.


Fico me perguntando como ser cineasta, cinéfilo ou crítico sem ser yuppie, sem ter banda larga em casa e sem mamar nas fartas tetas de uma sedenta instituição cultural burguesa (que pode ser, inclusive, um mecenato familiar). Não consigo imaginar uma ação espontânea delineada nas bordas do sistema financeiro, exceto pelas oficinas e afins realizadas por nossas queridas elites, iniciativas também conhecidas como 'tenho culpa burguesa, vou ensinar os pobres a filmarem e escreverem sobre a vidinha de merda deles que nunca vai mudar, acalmo as massas em seus redutos para não matarem, não roubarem, não cheirarem e chamo ao final de responsabilidade social' (não incluo aqui o projeto Vídeo nas Aldeias, especialmente porque, pelo que conheço, admiro imensamente os resultados). É nesses raros momentos de 'e se toda a estrutura ruir e eu ficar com uma mão na frente e outra atrás' que me vejo mais próximo do ato de escrever que de qualquer outro ato de expressão: além de plenamente solitário, e desde pequeno sempre tive sérios problemas com trabalho em grupo, me parece que depois do holocausto suíno e da supremacia absoluta da propaganda, estarei em guerra por um lápis e não por uma câmera.

De qualquer forma, quanto ao questionamento pequeno-burguês, espero que o Simião Martiniano ainda possa me responder.

Um comentário:

Tiago disse...

Engraçado você dizer isso. Tava comentando com Hermano justamente o contrário. Como acho que tu é um bom facilitador de grupo, pelo menos no dissenso. Acho mesmo que tu tem uma postura bem dialógica e democrática. Quanto ao questionamento pequeno-burguês me parece um meio-questionamento. E tô com preguiça de pensar numa explicação pra isso.

Abraço de quem te admira.