sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Rapidinhas

I

Depois de trabalhar com metade do elenco de Harry Potter no mesmo filme (Alan Rickman / Snape, Timothy Spall / Pedro, Helena Bonham Carter / Bellatrix) bem que o Tim Burton podia dirigir os dois últimos produtos da franquia - ok, isso é praticamente impossível afinal apenas o diretor do último ainda continua em aberto, semi-aberto, digamos. De fato, não sei se ele iria aceitar, não sei se ele já negou, mas acho que ele materializa universos sombrios e fantásticos como ninguém. Boa parte dos filmes de Burton tem uma estrutura de fábula-aventura melada de sangue, o que em teoria Harry Potter deveria se firmar em todos os seus capítulos. Convenhamos que enquanto realização cinematográfica essa franquia nunca passou do medíocre. Acho que JK Rowling devia ter exigido a presença do Tim Burton ao menos no primeiro. Todas as personagens iriam ser tão mais freaks e legais. Caso ele negasse, pegava a equipe como bem fez o ótimo Desventuras em Série... um filme e uma série de livros para crianças inteligentes.

Entretanto, não gostei de Sweeney Todd, filme mais recente do diretor em questão, e assumo que, em parte, pela antipatia com musicais. As produções desse gênero precisam realmente me impressionar muito para causar algum efeito. E apesar de algumas letras interessantes; das canções serem bem introduzidas na narrativa, até causarem tensão ou reforçarem um humor negro, os atores novatos são todos detestáveis, detestáveis, detestáveis e as coincidências do roteiro chegam a ser irritantes. Óbvio que a direção de arte, fotografia e o trio Depp-Helena-Burton estão perfeitos, mas isso é geralmente inquestionável em seus filmes, então vamos nos poupar. Definitivamente prefiro o Burton escuro escuro escuro, como ele sempre é, mas também o prefiro menos cantante e saltitante e, contraditoriamente, menos sangrento. Parece que essa afetação fantástica fábrica de chocolates colou e não passa mesmo com todas as mortes.

Para mim, desde 1994 quando realizou Ed Wood, Tim Burton só produziu um filme realmente genial: (Big Fish, de 2003). Ainda vou escrever um texto grande sobre essa película no Dissenso, porque apesar de entender a legião de fãs desse diretor, não me deixo atrair por qualquer peido escuro que ele solta (referência direta ao desnecessário remake de Planeta dos Macacos) e acho importante destacar o que realmente acho válido em sua filmografia. Sei que muitos discordam desse meu reducionismo. Não ligo... Mas Burton-genial para mim é resumido em: Vicent; Os Fantasmas se divertem; Batman; Edward Mãos de Tesoura; Ed Wood e Big Fish. O Estranho Mundo de Jack ele não dirigiu, mas é sua criação e também acho foda. Fora esses dou algum crédito à Batman - retorno, A Fantástica Fábrica de Chocolates e à Noiva-Cadáver. Mas deixemos o passado. Entre seus futuros projetos, sei que o Burton está produzindo uma versão em animação stop-motion para o seu média Frankenweenie (que nunca vi); além de sua própria versão para Alice no País das Maravilhas, cujas filmagens começam agora em maio. Entretanto, o que me parece mais promissor - isso soando quase como uma aposta - é um projeto chamado "The Spook's Apprentice". Segue a sinopse: "Thomas Ward is the seventh son of a seventh son and has been apprenticed to the local spook. The job is hard, the spook is distant, and many apprentices have failed before him. Somehow Thomas must learn how to exorcise ghosts, contain witches, and bind boggarts. But when he is tricked into freeing Mother Malkin, the most evil witch in the country, the horror begins...". Vamos esperar uns 2/3 anos...

II

O outro filme que assisti hoje foi Cloverfield - Monstro. Não se enganem, apesar dessa minha carinha de cult rato de cinema de arte, adoro essas produções com super efeitos, explosões, destruição. Só pra vocês sentirem o nível: em 1999, aos 14 anos fui pra pré-estréia do Episódio 1 de Star Wars na madrugada de natal, depois de passar... sei lá... dois anos, louco por esse lançamento. Sempre lembrando que blockbusters são a maior diversão... ou ao menos deveriam ser. Mas voltando a Cloverfield, sentei na cadeira e esperei mais um Godzilla destruir Nova York: "ok, estou aqui para ver americanos mortos", mas terminei vendo muito mais que isso. Infelizmente não posso contar o motivo desse mais, porque foi uma surpresa extremamente agradável de se ver desde o início e de acompanhar todo processo. Quase no nível de assistir O Hospedeiro, esperando o Godzilla e ver aquele filme coreano mutilfacetado que consegue ser todos os gêneros em um só - todos bons, um único excepcional. Aqui, entretanto, a surpresa é outra: e incrível como a platéia acostumada à uma estabilidade de câmera hollywoodiana, não tenha se incomodado tanto com a quebra desse estigma. Óbvio que uma série de produções anteriores, inclusive de outros países e do próprio Brasil, são responsáveis por isso.

Por conta dessa surpresa, o filme me causou uma sensação próxima de quando cheguei em casa no dia dos ataques terroristas de 11 de setembro - ataques esses altamente referenciados ao longo de todo filme. É incrível ver pela TV algo inacreditável daquele porte em tempo real: o ataque ao world trade center é realmente o meu maior exemplo. Ainda me lembro do choque de ver as torres caindo - fiquei gritando pra minha mãe ver até ela responder que já era reprise e que a outra torre ia cair também. Segundo ela, eram os chineses atacando. Trata-se de uma questão do momento de um ataque, de ninguém saber de nada, de não saber de onde veio e de não mostrar uma solução. O velho friozinho da incerteza daquele e somente daquele instante. Depois de anos, tudo se soluciona, entre mentiras e verdades e aquela sensação do momento desaparece. Cloverfield trabalha com o desespero e a falta de informação do tempo real de uma maneira surpreendente. Lembro também de imagens da guerra da Bósnia quando jornalistas entravam ao vivo e eram alvejados no meio da transmissão. Para quem pensava encontrar mais um Godzilla chato, acho que terminei, como li numa crítica do Omelete, encontrando um Tubarão blair. Sem exagero e com algum humor negro.

Também pensando nessa mesma crítica do Omelete, discordo quando o Marcelo diz que duas produções são necessariamente diferentes por conta de seus custos, quando uma custa 30 mil e a outra 30 milhões. Sinceramente, acho que esso é o último critério que levo em comparação entre filmes. Por fim, só queria considerar mais duas coisas. A primeira é que esse pessoal dos seriados tem mesmo que começar a se aventurar no cinema. Cloverfield foi produzido por JJ Abrams, escrito por Drew Goddard e dirigido por Matt Reeves. Os dois primeiros estão envolvidos respectivamente em Lost e Alias como criador/roteirista e produtor e o terceiro é o criador/roteirista de Felicity. Acho que além de terem uma afinidade na introdução de novas tecnologias (e consequentemente novas formas de registro fílmico), na própria intimidade com a geração youtube, esse pessoal conseguiu fazer no cinema algo bem próprio do cinema - planos longos - de uma maneira muito particular. Em O Hospedeiro também tem isso dos planos longos diferentes, também distintos dos daqui. Além de que, a maneira como o flashback é inserido dentro do filme é particularmente genial. Longe de todo aquele lenga lenga de lembrança bem demarcada já clichê por demais. Pra mim, isso faz desse pessoal muito mais moderno que os que ainda estão na vibe Godzilla, Independence Day e tal tal tal tal que já deu e deu muito mal. A outra coisa que queria dizer é como esses criadores sabem lidar com personagens, a partir do processo natural de identificação, já que essa característica é essencial na permanência/sucesso de qualquer seriado. O início é primordial pra que se estabeleça essa relação, mas é durante o desespero que ela se aprofunda. Hitchcock é mestre nisso. Acho que eu até veria de novo esse filme, mas agora que soube que vai ter uma continuação, acho que vou esperar... e provavelmente me decepcionar. hahaha


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