segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

O Carnaval e horror nacional

Apesar de gostar de carnaval desde pequeno, nunca tinha saído nas ruas vestindo qualquer espécie de fantasia. Esse ano resolvi, já no caminho para Olinda, criar uma máscara feita de manga de camisa. Um furo para cada olho e um rasgão da boca ao nariz. Uma máscara feita de resto de fantasia dos outros. Ok, convenhamos que a máscara ficou super trash e feia, mas e daí? Até então algumas pessoas olhavam apenas com certo receio pra mim, talvez desconfiadas com o fato de eu poder fazer qualquer coisa sem ser reconhecido. Entretanto, a grande maioria em Olinda, nem ligava pra quem tava de máscara, quem não tava, quem tava nu, quem era o homem aranha, nada. Todo mundo tira onda com todo mundo, fica todo mundo muito bem e ponto. Me chamaram de super herói quando um bloco passava aqui e de mordedor de OB quando outro passava por ali. Essa despreocupação total naquele calor dos infernos me fascina.

Foi então que resolvi turbinar quando a tarde veio chegando e fui embora das ladeiras pan pan pan panranran: além da máscara, acrescentei uma peruca loira de cabelos longos e um óculos escuro estranho. Ok, agora ninguém me reconhecia mesmo e já no Recife Antigo percebi como as pessoas ficaram realmente incomodadas com essa fantasia. Eu tava lá na minha no Quanta Ladeira dançando, rindo, bebendo, fazendo mal a ninguém. Então recebo uma ligação de uma amiga assustada gritando: "Rodrigo, tira essa máscara agora e joga fora... ouviu? tem um cara que ta te confundindo com alguém e ta atrás de tu". Tirei a máscara, a peruca e os óculos e óbvio que não joguei fora - só fiquei imaginando que me confundiram com alguém que fugiu do Cotel. Pois é, sem saber passei momentos de tensão e aventura, sendo caçado entre os prédios históricos do Recife Antigo pan pan pan panranran. Tudo isso só porque usava uma máscara bizarra, super freak. E já que eu to escrevendo aqui, vocês podem pressupor sozinhos que, dessa vez, o caçador não teve sorte. De qualquer forma, a partir do momento que tirei a máscara, a caçada foi finalizada. Quem correlacionaria Rodrigo Almeida com aquele diabo loiro demoníaco? Cybele, shiu.

Foi então que não contente com essa interferência arrumei na mesma noite outra máscara. Quer dizer, uma fantasia. Coloquei um óculos vermelho e um batom borrado na cara tipo Coringa Ledger. Sim, já era de noite. Novamente todos comentaram que minha fantasia tava muito assustadora (exceto as minhas amigas que me pintaram, porque elas têm senso de humor e horror) e eu percebia que as pessoas olhavam com um medo / agressividade pra mim. Foi então que estava dançando com uma amiga na Rua Marquês de Olinda, rumo ao Marco Zero, estavamos, de fato, histéricos e batemos sem querer e sem força em duas ou três pessoas. No meio da dança eis que surge um pé: do nada um cara me deu uma pezada fuderosa no meio do peito, disse "hahahaha, foi sem querer, desculpa", olhei pra cara dele e ele sumiu. Foi muito covarde esse cara não ter olhado nos meus olhos antes de fazer isso, porque eu teria tido a mínima possibilidade de me defender, mas só o fato de eu ter levado aquela porrada muito forte e não ter caído no chão, salvaguardou a minha honra do horror. Magrinho, magrinho, mas fiquei de pé. Isso não é autocomplacência.

E digo e repito: o horror não está no horror e eu acredito no horror nacional.

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