A cada dia me convenço mais de que o pior não foi ter passado por uma miríade de 'ismos' e ter desembocado a maturidade no conforto burguês, não foi, como comentam as apaixonantes personagens de Invasões Bárbaras (Canadá, 2003), de Denys Arcand, ter sido um jovem nômade ora separatista, independecialista, ora imperialista, imperialista-associado; antes, existencialista, depois, anti-colonialista, depois ainda, marxista, marxistas-leninista, trotskista, maoista, estruturalista, situacionista, feminista, desconstrucionista. O pior, de fato, é não ter passado por nenhum desses estágios, manter-se na suspensão perpétua de quem nasceu depois das grandes ideologias; não poder contar, na condição de avô sentado numa cadeira de balanço perto da fogueira, histórias de 'quando mudei o mundo' durante a juventude. Sinto um temor imenso, me controlei bastante para não chorar no cinema, chorar pelo tempo errado que parece contaminar cada espaço vazio: aliás, ultimamente, na falta de uma crença, ou de várias delas, tenho acreditado mais e mais que minha geração inteira vai morrer de câncer.
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