Seu sexo havia sido renegado desde que desistira viver fora dos muros do seminário católico, desde que decorara cada um dos salmos, provérbios, que acumulara a oratória hipócrita dos sermões, de tomar vinho e comer o sagrado pão abençoado por Deus. Sua sexualidade, entretanto, se mantinha mais ativa do que nunca: sonhava com bacanais envolvendo freiras, anjos e diabos que escorriam pelas bordas dos desenhos sacros; se masturbava para santas e relicários; assistia filmes religiosos com o tesão de um espectador pornô, honrava abstinência se inundando de culpa. Todos da sua família alertaram-no da precocidade pela sacristia, sequer tinha chegado aos trinta, as experiências reais, pêlo a pêlo, podiam ser contadas nos dedos. Enlouquecia em sua perversão dia a dia, tanto que depois de tomar todo vinho da eucaristia, se encontrava nuns dos motéis mais chinfrins da cidade - de outra cidade que não a sua. Estava disfarçado, calça jeans, camisa de botão, um colar de prata. Tinha vergonha das palavras idiotas que lia e apoiava, vergonha de ficar excitado durante a missa imaginando toda as mulheres da platéia sem calcinha - inclusive as mais velhas beatas. Despiu-se em poucos movimentos e abriu uma das malas jogadas em cima da cama, vestiu a batina, deitou-se sobre ela e se encarou profundamente pelo espelho do teto. Queria viver o outro lado que sempre esteve lá. Seu sexo havia sido renegado desde que desistira de viver fora dos muros do seminário católico que ingressara ainda jovem, sua sexualidade, no entanto, lutava permanentemente para superar tamanha abdicação. Bateram na porta uma, duas, três vezes. O padre-ex-padre fingiu não escutar.
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