quinta-feira, 18 de julho de 2013

Ossada

A matéria televisiva sobre a ossada encontrada nas escavações do túnel na frente do Museu da Abolição, supostamente de um judeu com cerca de 500 anos, supostamente antes do ultimato de deixarem o país em 1634, pareceu-me uma cena suecada de Em construção (Espanha, 2001), do espanhol Jose Luis Guerin. Incrível como diante de uma descoberta dessa magnitude histórica, todo mundo se sente estimulado a comentar ou fabular sobre o passado abaixo de nossos pés: uma época distante e silenciada parece ressurgir plena de uma estranha intimidade. Não tive muita paciência para as falas dos especialistas (aliás, as obras do túnel deveriam ser interditadas, não?); o bom mesmo veio dos curiosos, cada qual tocando da sua maneira mambembe ~engenhos, escravos, bondes, índios, mucambos ~ nas sobreposições de tempos e cidades. Segundo a minha mãe que estava vendo a matéria ao meu lado, por exemplo, a vila aqui da Várzea onde ela mora foi construída em cima de um cemitério de escravos. Não duvido 100% porque essa região era toda repartida por engenhos, tinha a capela dos brancos, dos pardos e dos negros (as duas primeiras sobreviveram, a última foi incendiada), mas tenho a impressão de que aprendi na minha infância - estudávamos a história de nosso bairro na escolinha construtivista - que o espaço da vila se transformou num cemitério dos portugueses e índios mortos na Batalha dos Guararapes. Acho que isso se torna mais verossímil, porque o Engenho São João, onde supostamente se tramavam as revoltas contra os holandeses, ficava na Várzea e Filipe Camarão, o líder índigena e uma das figuras mais importantes desse processo, certamente está enterrado na Igreja Matriz aqui pertinho. Errrr... falou e disse mais um curioso que teve algumas aulas sobre o assunto na terceira série.

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